ianda tenho entender isso melhor
por Rudolf Steiner
A primeira condição é: colocar para si o alvo de cultivar e desenvolver a saúde física e mental-espiritual3. É claro que o estado de saúde de uma pessoa não depende inicialmente dela mesma, porém cada um tem a capacidade de tentar se desenvolver nessa direção. Somente de uma pessoa saudável pode sair conhecimento saudável. O treinamento nos mistérios não rejeita uma pessoa que não esteja sã, mas precisa requerer do aprendiz a vontade de levar a vida são. (E quanto a isso a pessoa deve conquistar a maior autonomia possível. Bons conselhos de outros, dados geralmente sem ser pedidos, via-de-regra não adiantam nada. Cada um deve fazer força para cuidar de si por si mesmo). No campo físico isso significará, mais que qualquer outra coisa, manter afastadas coisas que fazem mal. Para cumprir nossas obrigações, muitas vezes temos que nos submeter a coisas que não são favoráveis à nossa saúde. O ser humano precisa entender os casos que justificam colocar a obrigação acima do cuidado com a saúde. Mas quanta coisa não pode ser deixada de lado com um pouco de boa vontade! Em muitos casos o dever precisa falar mais alto que a saúde, e até mais alto que a vida; já o desfrute nunca pode isso, para o aprendiz dos mistérios. Para ele o desfrute ou prazer só pode ser um meio para saúde e vida. E nesse sentido é inteiramente necessário colocar-se contra si mesmo (ou seja, ser autocrítico) com toda verdade e sinceridade. Não adianta nada levar uma vida ascética se isso brota de motivos semelhantes aos de outros prazeres. Uma pessoa pode se agradar tanto com o ascetismo quanto outra com o vinho. Esse não pode esperar que tal ascetismo lhe adiante alguma coisa na direção do conhecimento superior4.
Muitos empurram para sua situação de vida a responsabilidade de tudo o que parece dificultar seu desenvolvimento nessa direção. Dizem assim: "Nas condições em que eu vivo eu não tenho como me desenvolver." Com relação a outras coisas, para muitos pode ser desejável alterar sua situação de vida; pelo objetivo do treinamento nos mistérios nenhuma pessoa precisa fazer isso. Para esses fins a pessoa só precisa fazer por sua saúde de corpo e de alma tanto quanto seja possível dentro da situação em que se encontra. Qualquer trabalho pode ser útil à humanidade inteira. Da parte da alma humana, esclarecer a si mesma o quanto um trabalho miúdo, e quem sabe desagradável, é necessário para o todo, é uma atitude muito maior do que acreditar "este trabalho é ruim demais para mim, eu tenho competência para outra coisa."
De especial importância para o aprendiz dos mistérios é o esforço pela plena saúde mental-espiritual. Vida emocional e mental não-saudável termina em todos os casos por desviar dos caminhos para os conhecimentos superiores. Pensar calmo e claro, sentimentos e sensações seguros e nítidos constituem o alicerce. Nada deve ficar tão longe do aprendiz dos mistérios quanto a inclinação a coisas fantásticas, à excitação, ao nervosismo, à exaltação, ao fanatismo. Deve adquirir uma visão sã de todas as situações da vida; deve conseguir orientar-se na vida com segurança; é em calma que deve deixar que as coisas lhe falem e que tenham seus efeitos sobre ele. Em todo lugar onde é requerido, deve se dar o trabalho de agir com a vida de forma correta e justa. Tudo o que é torcido, forçado ou unilateral deve ser evitado em seus julgamentos e sensações.
Sem cumprir esta condição, em lugar de chegar em mundos superiores o aprendiz dos mistérios chegaria apenas aos mundos de sua própria imaginação; opiniões por mero gosto se fariam valer no lugar da verdade. Para o aprendiz dos mistérios é melhor parecer sóbrio ou sem graça do que ser exaltado e fantástico.
A segunda condição é sentir-se como um membro da totalidade da vida. No cumprimento desta condição estão implícitas muitas coisas _ mas cada um só a pode cumprir do seu próprio modo. Se eu sou educador e meu educando não corresponde ao que eu desejo, então eu não devo imediatamente dirigir meu sentimento contra o educando, mas contra mim mesmo. Devo me sentir uno com meu aluno em tal medida que eu me pergunte: "Essa insuficiência no meu aluno não será conseqüência de atos meus?" Então, em lugar de dirigir meu sentimento contra ele, eu passarei a refletir muito mais sobre como eu mesmo devo me comportar para que no futuro esse aluno possa corresponder melhor às minhas solicitações. A partir desse tipo de mentalidade todo o modo de pensar da pessoa vai mudando gradualmente. Isso vale desde as menores coisas até as maiores. Com essa mentalidade eu, por exemplo, vejo um criminoso de modo diferente do quem sem ela. Eu me contenho com o meu julgamento e digo a mim mesmo: "Eu sou apenas uma pessoa como essa. Talvez somente a educação que me foi concedida mediante uma situação de vida diferente tenha me protegido de um destino igual ao seu." Também posso chegar ao pensamento de que esse irmão humano teria sido outro se os professores que empregaram seus esforços em mim os tivessem dedicado a ele. Eu irei considerar que eu pude ter parte em uma coisa da qual ele foi privado, e de que eu devo o meu bem justamente à circunstância de que esse bem foi negado a ele. E então também não estará longe de mim a concepção de que sou apenas um membro da humanidade inteira e co-responsável por tudo o que acontece. Nesse ponto não se deve dizer que um tal pensamento deva se converter de
imediato em atos externos de agitação social; ele deve ser cultivado silenciosamente na alma, e aí então irá bem gradualmente colocando sua marca no proceder externo da pessoa. Nessas coisas cada um só pode começar por reformar a si mesmo. Não dá fruto nenhum fazer exigências gerais à humanidade no sentido dessas idéias. Como as pessoas deviam ser: é fácil fazer julgamentos quanto a isso; mas o aprendiz dos mistérios trabalha no profundo, não na superfície. Seria portanto totalmente errado ligar a exigência do instrutor oculto, aqui expressa, com qualquer reivindicação no mundo exterior, quem sabe mesmo exigências políticas, com as quais o treinamento nos mistérios não pode ter nada a ver. Via-de-regra agitadores políticos "sabem" o que deve "ser exigido" de outras pessoas; de exigências a si mesmos não é muito que eles falam6.
E a terceira condição para o treinamento nos mistérios está diretamente ligada a isso. O aprendiz tem que ser capaz de lutar para içar-se até a visão de que seus pensamentos e sentimentos têm tanta significação para o mundo quanto suas ações. É preciso que eu reconheça que odiar meu colega de humanidade7 é tão destrutivo quanto bater nele. Com isso chego também ao reconhecimento de que ao me aperfeiçoar eu não estou fazendo algo somente por mim mesmo, mas também pelo mundo. O mundo se beneficia tanto de meus sentimentos e pensamentos depurados quanto se beneficia do meu bom procedimento. Enquanto eu não puder acreditar nessa significação mundial do meu interior eu não servirei para aprendiz dos mistérios. Só terei realizado a crença correta na significação do meu interior, da minha alma, se eu trabalhar com as coisas da alma como sendo elas pelo menos tão reais e atuantes quanto todas as coisas externas. Tenho que admitir que meu sentimento tem efeito do mesmo modo como um ato executado pela minha mão.
Com isso já foi na verdade enunciada a quarta condição: adotar a visão de que a verdadeira entidade e essência do ser humano não se encontra nas coisas exteriores, e sim no interior. Para quem se considera apenas um produto do mundo exterior, apenas um resultado saído do mundo físico, o treinamento nos mistérios só pode dar em nada. Sentir-se como ser anímico-espiritual é um dos fundamentos para tal treinamento. Quem progride até esse sentimento está preparado então para fazer distinção entre compromisso interior e o sucesso exterior; aprende a reconhecer que um não pode ser medido diretamente pelo outro. O aprendiz dos mistérios tem que encontrar o verdadeiro caminho-do-meio entre o que as condições exteriores mandam fazer e aquilo que ele reconhece como certo para o seu procedimento. Ele não deve impingir a seu meio coisas que esse meio não tem como entender, mas deve também ser totalmente livre do vício de só fazer aquilo que pode ganhar o reconhecimento do meio. Tem que buscar o reconhecimento de suas verdades única e exclusivamente na voz de sua alma sincera e honesta, em luta pelo conhecimento. Deve, porém, aprender de seu meio tanto quanto puder, a fim de descobrir o que é adequado e útil a esse meio. Assim ele irá desenvolver em si mesmo aquilo que na Ciência dos Mistérios é chamado de "balança espiritual": em um dos pratos da balança se encontra um "coração aberto" para as necessidades do mundo exterior; no outro, "solidez interior e persistência inabalável."
E com isso já se apontou para a quinta condição: a firmeza no cumprimento de decisões, uma vez tenham sido tomadas. Nada deve ter o poder de levar o aprendiz dos mistérios a desistir de uma decisão tomada, a não ser a percepção de haver se envolvido em erro. Toda decisão é uma força, e mesmo quando essa força não tem um resultado direto ou imediato no ponto a que foi dirigida inicialmente, ainda assim ela atua a seu modo. O resultado só tem papel decisivo quando se executa uma ação por ambição _ porémas ações executadas por ambição são todas sem valor diante do mundo superior. Neste nível somente o amor é decisivo para uma ação. Tudo o que impulsiona o aprendiz a uma ação deve ter sua realização integralmente dentro desse amor. Assim ele também não afrouxará diante de converter uma decisão em ação de novo e de novo, tantas vezes quantas possa ter tido insucesso. E assim ele chega a não mais ficar esperando os efeitos exteriores dos seus atos, mas a ter sua satisfação nas próprias ações. Ele aprenderá a ofertar seus atos e, mais, seu ser inteiro ao mundo, sem se importar se o mundo vai querer aceitar sua doação. Aquele que quiser se tornar aprendiz dos mistérios tem que se declarar pronto a um tal serviço sacrificial8.
Uma sexta condição é desenvolver um sentimento de gratidão diante de tudo que vem ao nosso encontro. É preciso saber que ter existência própria é um presente dado pelo Universo inteiro. Quanta coisa é necessária para que cada um de nós receba e possa levar sua existência! O quanto devemos à natureza e a outras pessoas! Os que querem treinamento nos mistérios precisam estar inclinados a pensamentos desse tipo. Quem não consegue se entregar a eles não tem o poder de desenvolver em si aquele amor total9 que é necessário para chegar à forma superior de conhecimento. Aquilo que eu não amo não tem como se revelar a mim. E cada revelação deve me encher de gratidão, pois com ela eu me torno mais rico.
Todas as condições citadas precisam se unir em uma sétima: encarar a vida ininterruptamente no sentido exigido por estas condições. Com isso o aprendiz conquista a possibilidade de dar um caráter unitário a sua vida. As diferentes manifestações de sua vida estarão em consonância umas com as outras, não em contradição. Ele estará preparado para a serenidade a que tem que chegar durante os primeiros passos no treinamento nos mistérios.
No comments:
Post a Comment