Saturday, July 24, 2010

Ouro verde / artigo




21/07/2010


Opinião


JOÃO LUIZ MAUAD

A explosão da plataforma da British Petroleum no Golfo do México foi uma tragédia. Além da perda de vidas, milhares de barris de óleo cru vazaram durante meses do fundo do mar, trazendo impactos ambientais tremendos. A BP é responsável, sem dúvida alguma, por prejuízos ainda incalculáveis, que demandarão anos e bilhões de dólares para sanar.

Mas o acidente foi também uma dádiva para certo radicalismo ambientalista, há muito imbuído da redentora missão de banir os combustíveis fósseis do convívio humano. Logo de cara, o presidente Obama voltou atrás na decisão de liberar a exploração de petróleo e gás em parte da plataforma continental norteamericana, há décadas proibida por leis ambientais. Em seguida, o mesmo Obama decretou uma moratória da prospecção no Golfo do México. Os governos europeus, por seu turno, ameaçam a indústria petrolífera com tantas novas regulamentações que o próprio negócio pode tornar-se inviável por lá.

Por maiores que tenham sido o desastre e os prejuízos dele derivados, será que essa “guerra santa” é justificável? Se consumimos hidrocarbonetos, é porque eles nos garantem níveis de prosperidade, conforto e mobilidade como nenhum outro combustível. A energia deles obtida melhora nossa saúde, reduz a pobreza, permite uma vida mais longa, segura e melhor. Ademais, o petróleo não nos fornece somente energia, mas também plásticos, fibras sintéticas, asfalto, lubrificantes, tintas e uma infinidade de outros produtos.

“O petróleo talvez seja a mais flexível substância jamais descoberta”, escreveu Robert Bryce em “Power Hungry”, um livro iconoclástico sobre energia. “O petróleo”, diz ele, “mais do que qualquer outra substância, ajudou a encurtar distâncias.

Graças à sua alta densidade energética, ele é o combustível quase perfeito para a utilização em todos os tipos de veículos, de barcos a aviões, de carros a motocicletas. Não importa se medido por peso ou volume, o petróleo refinado produz mais energia do que praticamente qualquer outra substância comumente disponível na natureza. Essa energia é, além de tudo, fácil de manusear, relativamente barata e limpa”.

Caso o petróleo não existisse, brinca Bryce, “teríamos que inventá-lo”.

Mas nem tudo são flores, como bem demonstra o desastre recente. Como quase tudo na vida, há o lado bom e o lado ruim. Estatisticamente, para cada avião produzido, a probabilidade de acidentes aumenta, trazendo riscos aos usuários. Todavia, deixar de construir aviões não seria uma decisão razoável, já que os benefícios gerados superam em muito os eventuais malefícios. Da mesma maneira, ao decidirmos pelo uso medicinal de determinadas drogas, estamos cientes de que uma pequena fração de consumidores é suscetível a efeitos colaterais muitas vezes graves. No entanto, em vista da eficácia dessas substâncias para a maioria, não hesitamos em produzilas. Com efeito, a prospecção de petróleo, principalmente em alto-mar, envolverá sempre riscos. E o fato de ser impossível eliminá-los não é motivo para banir esta dádiva da natureza.

Algum dia, no futuro, haverá fontes de energia tão ou mais abundantes, eficientes, limpas e economicamente viáveis que os hidrocarbonetos. Em termos de rendimento econômico e ambiental, essas novas fontes deverão produzir o máximo de energia, em escala sustentável e, principalmente, no menor espaço possível, já que uma das maiores carências da humanidade é a terra utilizável.

Quanto mais terras nós ocupamos para produzir energia, menos espaço teremos para as florestas, a agricultura e a pecuária. Mas esta revolução energética parece ainda distante. O fato é que as ditas “energias verdes” — solar, eólica e biocombustíveis —, além de estarem bem longe de uma escala sustentável, precisam de grandes espaços para que sejam minimamente viáveis.

Portanto, se excluirmos da equação o (discutível) argumento das mudanças climáticas, uma coisa torna-se inescapavelmente clara: os combustíveis fósseis têm sido uma grande bênção, não só para a humanidade, mas para o meio ambiente. Foi graças a eles, por exemplo, que o óleo de baleia e a madeira deixaram de ser utilizados como combustível, seja para iluminação, para aquecer as residências ou para fazer mover os veículos. Sem o petróleo, o gás e o carvão mineral, provavelmente teríamos hoje muito menos baleias, florestas e parques.

Por mais que isto possa parecer estranho a alguns, a verdadeira energia verde são os combustíveis fósseis.


fONTE:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-globo/2010/07/21/ouro-verde-artigo

Filosofia é como o Bart: Irreverentre e faz perguntas inoportunas


A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura diante do mundo.

Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode pensar sobre a religião, a arte; o próprio homem, em sua vida cotidiana.

Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica. Há alguns anos, foi publicado no Brasil, um livro chamado "Os Simpsons e a Filosofia", que tratava das questões filosóficas implícitas no famoso desenho animado da TV.

Como o próprio Bart Simpson, a filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida.


Uma disciplina indisciplinada
Por isso, a filosofia incomoda, pois ela questiona o modo de ser das pessoas, das sociedades, do mundo. Discute as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área onde ela não se meta, não indague, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia pode ser perigosa ou subversiva, pois pode virar a ordem estabelecida de cabeça para baixo.

Quando surgiu entre os gregos, no século 6 a.C., a filosofia englobava tanto a indagação filosófica propriamente dita, quanto aquilo que hoje é chamado de conhecimento científico. O filósofo refletia e teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, ao como, ou seja, ao modo pelo qual elas acontecem ou "funcionam".

Euclides, Tales e Pitágoras, por exemplo, foram filósofos que também se dedicaram ao estudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, investigou problemas físicos e astronômicos, na medida em que esses problemas também interessavam à cultura e à sociedade de sua época.


O saber científico
Só a partir do século 17, com o aperfeiçoamento do método científico - baseado na observação, na experimentação e matematização dos resultados -, a ciência tal qual a entendemos hoje começou a se constituir, como uma forma específica de abordagem do real que se destacava ou desprendia da filosofia propriamente dita.

Afastando-se da filosofia por se tornarem mais específicas, apareceram pouco a pouco as ciências particulares, que investigam determinados aspectos da realidade: à física interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização social, etc.

O conhecimento fragmenta-se entre as várias ciências, pois cada uma se ocupa somente de uma parte do real. Estudam os fenômenos que pertencem à sua área específica e pretendem mostrar como estes ocorrem e como se relacionam com outros fenômenos. A posse do conhecimento sobre os fenômenos naturais e humanos gera a possibilidade de prevê-los e controlá-los.


Integração e totalidade
Por outro lado, a filosofia trata dessa mesma realidade, só que - em vez de separá-la em conhecimentos particulares e estanques - considera-a no interior da totalidade de fenômenos, ou seja, procura enxergar a realidade a partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere e restabelecendo a integridade do universo humano.

Sob o ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar os problemas econômicos do Brasil somente a partir de princípios de economia. É necessário relacioná-la com os interesses das diversas classes sociais, os interesses políticos, os interesses nacionais, etc.

Um país economicamente instável é um país política e socialmente instável. Já para a ciência econômica isso não vem ao caso. Para a economia, interessa somente verificar como a inflação ou a recessão funciona para poder controlá-la, independentemente dos reflexos que esse controle tenha para a sociedade.


Perguntas e mais perguntas
Por isso, sem desmerecer o conhecimento especializado das várias ciências, a reflexão filosófica é sempre - mais do que necessária - obrigatória. Cabe ao filósofo refletir sobre o que é ciência, o que é método científico, qual a sua validade e seus limites.

A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a objetividade e até que ponto um sujeito histórico - o cientista - pode ser objetivo, isto é, isento de interesses pessoais? Cabe ao filósofo, também, refletir sobre a condição humana atual: o que é o homem? O que é liberdade? O que é trabalho? Quais as relações entre homem e trabalho? É possível existir uma outra ordem social?

A própria escola é alvo de reflexão filosófica. A educação pressupõe uma visão do homem como um ser incompleto, que pode ser aprimorado, educado, ao contrário dos animais, que não precisam ser educados, pois orientam-se pelos instintos. Só os educamos, ou domesticamos, para acomodá-los às nossas necessidades humanas.

O caso dos homens é diferente, sem dúvida, mas, para que o ser humano é educado? Para o exercício da liberdade e da responsabilidade ou só para se inserir na ordem estabelecida? Em outras palavras, a educação ocorre para cada homem saber pensar por si próprio ou para aceitar as regras que outros pensaram para ele?

A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite juízos de valor ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo. A filosofia vai além daquilo que é, para propor como poderia ser. E, portanto, indispensável para a vida de todos nós, que desejamos ser seres humanos completos, cidadãos livres e responsáveis por nossas escolhas.


Características do pensamento filosófico
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados mais profundos. Porém, como se faz isso?

Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, traduz os valores envolvidos nas coisas, nos acontecimentos e nas ações humanas.

Para chegar a isso, segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve possuir as seguintes características:


Radicalidade - ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos; à sua origem, não só cronológica, mas no sentido de chegar aos valores originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em profundidade.

Rigor - isto é, seguir um método adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor, colocando em questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e a algumas generalizações científicas apressadas.

Contextualidade - como já se disse antes, a filosofia não considera os problemas isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas tanto verticalmente, dentro do desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-os a outros aspectos da situação da época.


Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas, dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o processo do filosofar será sempre marcado por essas características, resultando em uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Tuesday, July 13, 2010

Indice Gordurama Big Mac



O que um Big Mac pode nos dizer sobre o preço do chá na China? Ao que parece, muita coisa.
Por 24 anos, a revista “The Economist” mediu o valor das moedas em todo o mundo usando dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, pickles e pão com gergelim.
A China, por exemplo, onde é possível comprar quase dois Big Macs pelo preço de um nos EUA, tem a moeda mais desvalorizada do mundo, concluiu a revista recentemente.
O Índice Big Mac foi criado para explicar um conceito econômico chamado paridade de poder de consumo, o conceito de que um dólar deveria comprar a mesma quantidade de um país para o outro. Se houvesse paridade, o preço de um produto – nesse caso um Big Mac – deveria ser o mesmo em todo o mundo.
O índice deste ano descobriu que os preços do Big Mac, convertidos para dólares norte-americanos, variava de US$ 6,87 na Noruega até US$ 1,83 na China. O preço médio nos Estados Unidos é US$ 3,58.
Embora o Índice Big Mac seja uma forma nova de olhar para o que o dólar é capaz de comprar em diferentes países, ele também se mostrou bastante acurado para indicar mudanças nas moedas, disse o professor Dave Denslow da Universidade da Flórida.
“Se o Índice Big Mac diz que uma moeda está desvalorizada, ela tende a se valorizar”, diz Denslow.
Foi exatamente o que aconteceu com a moeda chinesa, embora a pressão dos EUA e dos governos europeus tenha provavelmente exercido um peso maior sobre as mentes das autoridades chinesas do que uma palavra de uma publicação de negócios britânica.
No mês passado, poucos dias antes da reunião do G-20, a China anunciou que irá valorizar novamente o yuan.
Sindicatos e trabalhadores podem se beneficiar com isso porque as fábricas norte-americanas tinham dificuldades em competir com o baixo custo do trabalho e dos produtos da China.
Mas mais americanos poderão sentir a pressão disso em seus bolsos. Muito do que eles compram é importado da China, e um yuan mais caro irá fazer os preços subirem.
O alcance mundial do McDonald's faz com que o seu sanduíche mais famoso seja o produto perfeito, diz Rick Wade, que é dono de dez franquias da marca em Palm Beach County.
O Big Mac é vendido em mais de 100 países, em mais de 80% das 32 mil lojas do McDonald's no mundo. Franquias de poucos países rejeitam o produto por motivos culturais ou religiosos.
Leia mais notícias dos jornais internacionais:
• Bancos estrangeiros podem enfrentar crise com vencimento de trilhões em dívidas
• "A crise de confiança ainda precisa ser superada", diz o chefe do Banco Europeu de Reconstrução
• Diretor da megaseguradora Munich Re diz que é preciso reavaliar os riscos das perfurações de petróleo
• O que o preço do Big Mac pode dizer sobre a moeda
de um país?
• Perfuração de poços em Cuba vira problema para
os Estados Unidos
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Mas onde quer que ele seja vendido, a megacorporação controla de perto a qualidade do produto, tornando fácil comparar o preço de um Big Mac em Boynton Beach com um em Bahrain, diz Wade.
Quando Wade faz um pedido de hambúrgueres, ele escolhe entre cerca de três fornecedores, diz ele. E ele não pode simplesmente misturar o molho picante característico dos sanduíches em suas cozinhas. Ele precisa comprar o molho de um distribuidor aprovado para garantir que o hamburguer que ele venda seja fiel ao original.
“Esta é a razão pela qual o McDonald's é a marca que é, que é uma marca global tão poderosa”, diz Wade.
Com frequência, as franquias em outros continentes compram de fornecedores dos EUA, diz Wade.
A necessidade de vender um produto uniforme quase levou à falência as três franquias do McDonald's na Islândia, quando a moeda do país isolado no Ártico caiu no ano passado.
O empresário Magnus Ogmundsson disse à Associated Press que na época ele era obrigado por seu contrato com o McDonald's a importar praticamente todos os ingredientes do sanduíche da Alemanha.
Como a moeda islandesa, o krona, havia se desvalorizado muito, Ogmundosson teria que cobrar o equivalente a US$ 6,36 por sanduíche, o que o tornaria um dos Big Macs mais caros do mundo.
Em vez disso, Ogmundsson decidiu fechar suas três lojas e disse que planeja abrir outra franquia de hambúrgueres que não exija importações tão caras.
Pode ser que o povo chinês e os turistas do país não vejam muita diferença no preço de um Big Mac durante algum tempo. Desde que a “The Economist” atualizou seu índice em março, o yuan valorizou apenas 1%.
E isso é provavelmente uma boa notícia – e não apenas para quem gosta de um bom e gorduroso hambúrguer.
Os chineses têm boa parte da dívida norte-americana.
A moeda chinesa desvalorizada mantém as taxas de juros dos EUA mais baixas e permite que o governo norte-americano pague o seguro social das pessoas, por exemplo, emprestando dinheiro em vez de pagando-o com impostos, diz Denslow.
A valorização da moeda chinesa é “algo que queremos ver amanhã e não hoje”, diz ele.
Enquanto isso, a passagem de avião pode ser cara, mas a China é o melhor lugar para comer um hambúrguer barato.

Tradução: Eloise De Vylder`- The Economist